O clima entre os parlamentares Coronel Sandro (PSL) e Beatriz Cerqueira (PT) não está nada amistoso nas reuniões realizadas na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Nesta quinta-feira (21), por exemplo, a sessão da Comissão de Educação e Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia foi suspensa, sem previsão de retorno, após o Coronel pedir para que Beatriz, que é presidente da comissão, ficasse em silêncio.

A confusão começou após o deputado fugir do tema que estava sendo discutido na reunião. Depois disso, a presidente Beatriz Cerqueira pediu que o deputado voltasse ao tema, quando ele respondeu que não aceitaria ser pautado por ela e a ordenou que ficasse em silêncio. “Fica caladinha”, teria dito o deputado.

A deputada Beatriz Cerqueira respondeu ao ataque durante a sessão em plenário. “Não vou deixar que a violência contra as mulheres seja naturalizada. Nenhum homem tem o direito de dizer a uma mulher para calar a boca, nem ficar caladinha, nem ficar caladona. E não importa a patente do homem, seja ele coronel – se referindo ao deputado -, bombeiro pedreiro etc. Nenhum homem tem dinheiro de fazer isso”, disse Beatriz.

Logo após a fala de Beatriz, o deputado Coronel Sandro se defendeu e disse que a fala foi dirigida aos deputados que estavam na mesa, e não à Beatriz.

“Eu sou um apaziguador e não posso permitir inverdades. Tivemos um conflito na comissão, eu estava defendendo o meu direito de falar. Se há uma coisa sagrada é o direito de fala e eu fui interrompido e cerceado. Para defender meu direito de concluir raciocínio, eu disse: ‘quando alguém fala, os outros tem que ouvir, caladinhos’”, se defendeu o deputado.

Ainda segundo ele, a deputada teria transforma a fala em um ato de violência contra a mulher. “Pelo amor de Deus, comigo não. Os fatos não comprovam isso. Essa falsa narrativa só prova que muitos, especialmente o PT, usam da vitimização falsa para tentar comover as pessoas. Eu não pratico violência contra a mulher”, disse.

Pavio curto

O deputado é conhecido nos corredores da Casa por ser um sujeito “estourado” e de pavio curto. Não é a primeira vez que ele é acusado de ser truculento.

Segundo interlocutores, o deputado Coronel Sandro tem agido de maneira truculenta com os colegas da casa e, também, com populares durante audiências públicas.

Na primeira sessão da comissão de Educação, na quarta-feira (20), o deputado também se exaltou e, em um dos momentos, chegou a ser vaiado pelos professores que participavam da reunião, após criticar os profissionais de “doutrinadores”.

Já nesta quinta-feira (21), durante a audiência pública sobre as barragens de rejeitos de mineiro em Minas, o Coronel também se exaltou com um dos participantes. Os representantes do meio ambiente e vítimas que estavam no local pediram para que a população fosse ouvida antes dos parlamentares, foi quando a confusão começou.

Enquanto os populares discutiam, o deputado pediu que as pessoas fizessem silêncio para que ele concluísse sua fala, fato que elevou os ânimos no local. “Isso é uma audiência pública, e você está pedindo que o povo se cale, deputado?”, questionou um dos manifestantes ao parlamentar.

Ao BHAZ, o deputado negou a fama de pavio curto e disse ser tranquilo. “O que eu defendo é que todos os parlamentares tenham a importância de suas funções reconhecidas. O que aconteceu na reunião sobre as barragens é que um dos sujeitos estava impedindo os deputados de exercerem suas atividades. Ele estava atrapalhando a sessão. E, para defender direitos, eu sou bom de briga, sejam os meus ou de qualquer outro parlamentar”.

Coronel x Beatriz

Antes mesmo de começar o mandato dos deputados, em dezembro de 2018, Beatriz apresentou ao procurador geral de Justiça, Antônio Sérgio Tonet, uma representação contra uma fala de Coronel Sandro.

Na época, ele disse que sua principal função na Casa seria exterminar a esquerda no campo das ideias.

“Não podemos naturalizar a violência como forma de fazer política. Não naturalizar significa questionar, problematizar sempre. Não fui eleita deputada estadual para aceitar ser exterminada”, disse Beatriz na época.

Nessa quinta, o deputado voltou a afirmar, desta vez em plenário, que “exterminar a esquerda no campo ideológico” é a sua casa. “O Ministério Público entendeu que minha fala não incita a violência, é apenas liberdade de expressão”, disse à reportagem.