O tempo seco das últimas semanas tem trazido um problema constante para os produtores rurais de Uberaba. Além de prejuízos para a natureza e para a saúde, as queimadas têm deixado, junto com um rastro de destruição, um saldo negativo para algumas lavouras.
Em uma fazenda a 30 Km da cidade, um incêndio que durou quase 12 horas deixou mais de 500 hectares queimados. Segundo o gerente da fazenda, Wender Fernando, foi o pior nos últimos dez anos. “O vento estava muito forte. Até tentamos controlar, mas não teve jeito. Teve até gente que se machucou com o fogo”, contou.
O prejuízo só não foi maior porque grande parte da cana já estava pronta para ser colhida. Mesmo assim, o estrago foi grande: 150 hectares não poderão ser aproveitados, já que os pés ainda estavam pequenos. “O prejuízo é grande, pois perde-se adubo, produção. Perde-se tudo. É difícil, porque a gente levanta cedo para trabalhar e tudo que foi feito ficou para trás”, lamentou.
De acordo com o agrônomo Adelar José Fabian, as queimadas também afetam o equilíbrio ecológico. A nascente do Rio Uberaba nesta época do ano, geralmente, fica com nível mais baixo. Porém, a falta de vegetação no entorno do rio diminui a retenção da água da chuva e isso pode fazer a nascente ficar mais seca no futuro.
“A água é onde ocorre a consequência. A vegetação tem o papel importante de proteger o solo do impacto da água da chuva. Então, ela protege contra a erosão. Essa proteção faz com que a água tenha tempo de infiltrar no solo e abastecer o lençol freático, que vai garantir a perenidade do curso dos rios e das nascentes. Então, se a vegetação é eliminada, a agua das chuvas, quando toca o solo, desagrega, provocando a erosão”, explicou.
A fauna também fica comprometida. Outro impacto negativo importante é que a qualidade do solo é afetada. “Num primeiro momento, aparentemente, a cinza fertiliza o solo. Até muitos ateiam fogo buscando esse benefício imediato. Só que a mesma água que alimenta as plantas, leva os nutrientes embora. Então há benefício a curto prazo e um prejuízo mais longo”, completou o agrônomo.
Para quem cresceu na fazenda, fica a tristeza ao ver tanta destruição. “Eu nunca vi a fazenda desse jeito. Ninguém tem consciência do que faz. Vai e põe fogo, mas não vê o prejuízo que dá para as outras pessoas, inclusive para o futuro dele, que pode ficar sem água”,
Fonte: G1