A primeira etapa da inédita Taça dos Povos Indígenas ocorreria neste sábado. A competição teve a chancela da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e um evento de lançamento na sede da entidade ainda em setembro de 2024. Desde então, a organização, conduzida por uma empresa privada, viu-se, na prática, sem o apoio da confederação. Às vésperas do torneio, quando questionou sobre o assunto, recebeu como resposta que a CBF não iria mais apoiar a Taça, por ter outras prioridades. Em nota, a confederação afirma não ter recebido as informações necessárias para estruturar o torneio.
A organização escreveu um e-mail para CBF no dia 31 de março, cobrando por não haver "avanços concretos" e apoio da CBF, mesmo que as conversas tenham iniciado em agosto de 2023, com chancela assinada em setembro de 2024. "Chancelamos o comprometimento com o projeto, assumindo o apoio institucional em curadoria, arbitragem, uniformes e outros aspectos essenciais", diz um trecho da mensagem à qual o Estadão teve acesso e indicava tratar do tema com urgência.
O texto foi encaminhado ao e-mail do gabinete da presidência da CBF e respondido pelo gerente de Desenvolvimento e Projetos da entidade, Ricardo Leão, um dia depois, em 1º de abril. "Após uma análise cuidadosa de nossas prioridades e capacidade atual, infelizmente não será possível oferecer qualquer forma de apoio", escreveu Leão.
Conforme apurou o Estadão, a resposta causou surpresa à Four X Entertainment, empresa responsável pela organização do torneio. A organizadora esperava que elementos como tabela, formato, número de jogos e até mesmo o amparo técnico aos times, descritos como "curadoria", fossem elaborado junto da CBF, para conferir melhor qualidade ao torneio.
É o que diz o documento da chancela, assinado por Ednaldo Rodrigues em 13 de junho de 2024. "Temos o orgulho e a satisfação de confirmar a chancela da CBF, que oferecerá curadoria à organização do evento, contribuindo para que o futebol seja cada vez mais uma democrática e eficaz ferramenta de transformação social", diz o trecho.
A Taça dos Povos Indígenas tinha o planejamento de ocorrer em quatro etapas regionais (Centro-Oeste, Nordeste, Sul/Sudeste e Norte), com a participação de 48 etnias, e tem apoio do Ministério dos Povos Indígenas. A primeira etapa, no Centro-Oeste, estava prevista para ir de 26 a 30 de novembro, mas foi adiada por previsão de chuvas.
O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, é nascido em Vitória da Conquista, município que abriga três das primeiras etnias indígenas reconhecidas no Brasil, os Mongoyó, os Ymboré e os Pataxó. "Carrego no sangue, com muito orgulho, esta ancestralidade. A Taça dos Povos Indígenas é uma grande oportunidade para reafirmar esta identidade e promover, por meio do futebol, o resgate e a celebração da força de nossa cultura", disse Ednaldo, na abertura do evento.
Os jogos seriam na Aldeia Multiétnica, localizada em uma área de preservação próxima a Alto Paraíso de Goiás, no entorno do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, reconhecido como Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco.
"A CBF trabalha sempre para fazer do futebol um ambiente mais inclusivo e uma sociedade mais coesa e acolhedora. A Taça dos Povos Indígenas faz parte do compromisso que assumi com o Papa Francisco há dois anos ao assinar a Declaração do Esporte para Todos no Vaticano. Vamos fazer a melhor competição da história", disse o presidente da CBF, em setembro.
SEM INFORMAÇÕES
Em nota oficial, a CBF não menciona a questão de prioridades, como no e-mail. A entidade diz que continua chancelando o evento. "Posteriormente, o Ministério dos Povos Indígenas alegou que seria necessário ampliar o evento, para abrigar um número maior de etnias. Por conta disso, até hoje os organizadores não enviaram à CBF informações básicas sobre o formato da competição, como datas, tabela e número de jogos, o que inviabiliza qualquer ação prática por parte da entidade", diz um trecho do texto da CBF.
A entidade ainda afirma que a Four X Entertainment precisa resolver uma pendência com a Seleção Indígena de Futebol do Brasil e das Américas (SIFBA) e seu presidente, Matheus Tereno'e, que avocam ser os responsáveis pelo futebol indígena no País.
A Four X também argumenta que a SIFBA é responsável pela Seleção Indígena, mas não pelo futebol indígena na totalidade. A SIFBA terá uma equipe no torneio, mas não a seleção.
A organização solicitou nova reunião com a CBF até o dia 19 de abril. A data, uma semana depois do começo previsto para a etapa Centro-Oeste, é o Dia dos Povos Indígenas.
A SIFBA ainda não tem um posicionamento oficial. O Estadão apurou que a diretoria da Seleção vai se reunir na noite desta quinta-feira. Um comunicado sobre a situação deve ser emitido até o fim da semana.
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