Hugo Calderano viveu o auge de sua carreira no último fim de semana. O título da Copa do Mundo do Tênis de Mesa, diante do número 1 do mundo, o chinês Lin Shidong, colocou o nome do brasileiro para sempre na história do esporte. De um momento em baixa, como destacou logo após a vitória em Macau, o atleta muda sua postura nesse momento pós-título, pensando em ter mais descanso na rotina de treinos e viagens, em busca literalmente de "mais sol" até a Olimpíada de Los Angeles-2028.
"Uma onda de alegria, de felicidade", classifica o atleta sobre o título na Copa do Mundo, em entrevista coletiva nesta quinta-feira. "Um pouco de satisfação de ter conseguido uma coisa tão grande no tênis de mesa. Imediatamente, após vencer, percebi que me tornei campeão da Copa do Mundo para sempre. Uma sensação de ter deixado meu nome na história do esporte."
A frase de Hugo não é à toa: o brasileiro se tornou o primeiro campeão masculino não asiático ou europeu a disputar e ganhar uma final de Copa do Mundo na história. No pódio, a bandeira brasileira foi hasteada entre os rivais chineses. Midiático entre os fãs do esporte no continente asiático, foi a primeira vez que ele celebrou um título deste peso diante dos rivais.
Nos próximos meses, Calderano terá os últimos jogos pelo Liebherr Ochsenhausen, clube da Alemanha, que defende desde 2014. A Bundesliga, o Campeonato Alemão da modalidade, será a última competição do brasileiro, que terá a semifinal neste fim de semana e, em caso de classificação, disputará a decisão em junho. Após isso, Calderano ainda não tem um caminho trilhado, mas tem um plano em mente: menos viagens entre Ásia e Europa - onde as principais competições são disputadas - e mais tempo com familiares e amigos.
"Não tenho nada confirmado. Essa decisão foi pensando em ter um tempo mais tranquilo, mais liberdade. Coloquei esse objetivo, de brigar por títulos pelo meu clube, por tudo que já vivi, queria brigar por títulos. Ano que vem será um bom ano para jogar menos, ou até não jogar por um clube", afirma o mesa-tenista.
Além disso, em maio, a chave vira: do título da Copa do Mundo, o brasileiro foca na disputa do Campeonato Mundial, que acontecerá em Doha, no Catar. Ele terá a presença da seleção brasileira, do técnico Thiago Monteiro, que o acompanhou em Macau, para a disputa. O título na Copa também garantiu a ele um status melhor na competição, se colocando como o terceiro cabeça da chave na disputa.
"Será o próximo grande objetivo. No meu caso, que tenho um jogo mais agressivo e ambicioso, o importante é estar na minha melhor forma, para ganhar de qualquer um. O foco continua a ser os Jogos Olímpicos, conseguir uma medalha. Quanto mais tempo no topo, mais chances de conseguir esse objetivo e uma medalha", diz. Em Los Angeles-2028, ele terá 32 anos. Pelo lado físico e mental, não quer se desgastar em busca de medalha, para desfrutar de sua carreira.
No tênis de mesa, os atletas sempre treinam com outro jogador. Para Hugo, é importante que os rivais no CT estejam do mesmo nível daqueles que encontrará na competições - em sua maioria na Ásia. Por isso que ainda mora na Alemanha, situação que deve mudar nos próximos meses.
A tendência é que ele diminua o número de torneios disputados por clubes, se preservando para a Olimpíada. Além disso, o brasileiro quer mais "sol" em sua vida, depois de longos anos sob o frio e a chuva do clima europeu. "Um ciclo se encerrou na Alemanha. Fiquei muitos anos no clube, com grandes técnicos, mas tanto o clube quanto minha equipe sofreram uma grande mudança. Muitos dos atletas se mudaram e foram treinar em outros clubes. Agora, preciso reconstruir minha equipe", analisa.
"Ainda não sei exatamente como vai ficar. Felizmente, foi muito bom com o Thiago Monteiro para reconstruir. Vou experimentar treinos diferentes, passar mais tempo em lugares com sol, isso faz muita falta. Saiu um sol, já chego no treino com mais vontade e mais feliz. Infelizmente, na Europa, é neve e chuva", brinca o mesa-tenista.
Mesmo sem treinar no Brasil, o número três do mundo terá essa experiência ensolarada no Brasil a partir de 29 de julho. Isto porque ele confirmou sua presença no Star Contender, de Foz do Iguaçu. Será a primeira vez em que competirá no Brasil.
"Espero que a torcida brasileira compareça em peso. Sempre sou bem recebido, recebo um carinho muito grande. Isso tem tudo para crescer ainda mais depois desse título, vai fazer muito bem para o tênis de mesa brasileiro", afirma.
IMPACTO NA CHINA
Desde a Olimpíada, em que lamentou a eliminação na semifinal, sem obter uma medalha, Calderano contou com o apoio de amigos e familiares para se recuperar. "Sempre confiei bastante no tempo", diz. Em Macau, a recuperação do mesa-tenista impactou na própria organização do esporte no país asiático.
Após o revés de Shindong, as redes sociais chinesas se inflamaram. Essa mobilização de torcedores locais resultou na renúncia de Liu Guoliang, presidente da Associação Chinesa de Tênis de Mesa (CTTA), ao cargo nesta quarta-feira. Com a saída do mandatário, os membros do conselho elegeram Wang Liqin para assumir o comando da entidade neste período de turbulência provocado pelo triunfo histórico do atleta brasileiro.
Não é possível atribuir a renúncia às derrotas dos chineses para Calderano. O próprio brasileiro evitou entrar nesse tema e gerar ainda mais polêmica, mas confidenciou que o resultado tem um "gosto especial" por derrubar a hegemonia chinesa no esporte. "Chineses ainda são os melhores, mas de vez em quando é muito bom vê-los sendo derrotados. Nos últimos anos, a concorrência aumentou muito."